Pequena história zen
Nos jardins de um mosteiro zen, um monge estudante estava sentado em posição de lótus, imóvel, com os olhos fechados e mergulhado na mais profunda meditação. O mestre do mosteiro aproximou-se dele e começou a bater, ruidosa e vigorosamente, com o seu cajado no chão. Assustado, o monge abriu os olhos e, vendo que era o seu mestre que fazia tanto barulho, protestou: “Ora essa, mestre, por que está perturbando a minha meditação? Como posso meditar, com o senhor fazendo tanto barulho?” O mestre sorriu serenamente e respondeu: “Inclua o barulho na sua meditação…”
O que é meditação
A historinha acima é bem ilustrativa daquilo que é, realmente, a meditação. Muita gente pensa que meditar é pensar, deixar o pensamento fluir livremente. Outros acham que meditar é concentrar-se em determinada coisa criada na mente, uma chama, por exemplo, e obrigar a mente a fixar-se unicamente naquela coisa. Ambas as noções estão erradas. Meditar não é pensar; pelo contrário, é esvaziar a mente, imobilizar o pensamento. Daí a grande utilidade do processo, porque, com a mente vazia, quieta, silenciosa, é possível ao cérebro descansar e aliviar o estresse do dia a dia.
Meditar também não é concentrar-se em determinada coisa criada na mente e obrigar a mente a fixar-se unicamente naquela coisa. Também neste caso, é o contrário; a meditação não é um processo excludente (que exclui), mas sim inclusivo (que inclui). Nele, a mente não é obrigada a nada, tudo deve ocorrer natural e livremente. Assim, não há nada que não faça parte da meditação, porque ela é abertura total e aquilo que se poderia chamar de um estado de total aceitação e amor.. Por isso, a sugestão do mestre zen àquele monge estudante: “Inclua o barulho na sua meditação…”
Não se trata, portanto, de concentração numa única coisa, mas de uma atenção a todos os sons, aos pensamentos que, inevitavelmente surgem, às lembranças que ocorrem, aos receios, às imagens… Meditar é integra-se a tudo, ao Todo, é observar o próprio meditador. Este é o verdadeiro Espelho Mágico das lendas.
Meditação, segundo Krishnamurti
Jiddu Krishnamurti (1895 – 1986) foi um célebre filósofo, escritor e educador indiano. Entre seus temas estão incluídos a revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Assim ele fala sobre a meditação: “Meditação é a atenção em que existe um estado de consciência sem escolha, do movimento de todas as coisas – o canto dos pássaros, o barulho do automóvel, o serrote elétrico, a agitação do vento nas folhas, o riacho barulhento, as crianças gritando, os sentimentos, os motivos, os pensamentos contraditórios e, indo mais ao fundo, a percepção da consciência total. Nessa atenção, deixa de existir o tempo como o ontem que continua no hoje e no amanhã, os movimentos e as distorções da consciência se aquietam e silenciam. Nesse silêncio, há um imenso e incomparável movimento, um movimento imperceptível que constitui a essência do sagrado, da morte a da vida.. É impossível segui-lo, pois não deixa vestígio algum, é estático e silencioso, é a essência última de todo o movimento.”
Os mais interessados poderão assistir ao vídeo de uma palestra de Krishnamurti, realizada na Universidade Estadual de San Diego – Califórnia, EUA – sobre o que é meditação. Acessem: http://www.youtube.com/watch?v=ti9YxcXIHm4
Por que indicadores e polegares unidos?
Observa-se que, na chamada “Posição do Lótus”, a mais recomendada para a prática da meditação, os dedos polegar e indicador de ambas as mãos se tocam. A razão disso é que o Ki – a energia que constantemente percorre o nosso corpo – normalmente se dispersa para o exterior através desses dedos.
Colocando-os em contato, durante a meditação, essa energia não se dispersa e tende a armazenar-se no organismo, favorecendo as condições necessárias para a prática do processo. Esse fato não é conhecido pela maioria dos cientistas ocidentais que só compreendem aquilo que podem tocar, medir, pesar, cheirar, comer, comprar e vender…
A ciência e a meditação
Muitos estudos científicos sobre a meditação foram realizados, para saber, cientificamente, como esse processo pode beneficiar o ser humano. E os resultados, até agora, têm sido espantosos: pesquisas mostraram que a meditação alivia a dor, aumenta a capacidade de atenção, melhora o sistema imunológico e representa maior conexão entre o corpo e a mente. Foi o que revelou um novo estudo, uma revisão de pesquisas anteriores sobre a meditação, que descobriu que, após quatro semanas de prática (o que equivalente a apenas 11 horas) de meditação , nosso cérebro passa por mudanças físicas notáveis e altamente benéficas.
Os cientistas analisaram os resultados de dois estudos de 2010, um com 45 estudantes da Universidade de Oregon (EUA) e outro com 68 estudantes da Universidade de Tecnologia de Dalian (China). Após duas semanas de prática, os participantes apresentaram maior densidade de axônios (fibras nervosas) no cérebro. Após um mês de prática, além do aumento de densidade das fibras nervosas, foi observada também a expansão da mielina, um isolamento de proteção gordurosa que envolve as fibras nervosas. Esses efeitos foram vistos na região do córtex cingulado anterior do cérebro, que ajuda a regular o comportamento. A atividade nesta parte do cérebro está associada a várias doenças mentais, como déficit de atenção, demência, depressão e esquizofrenia. A mudança nessa parte do cérebro afetou os participantes de forma positiva: eles apresentaram melhoras no humor, níveis reduzidos de raiva, ansiedade, depressão e fadiga, além de níveis mais baixos de cortisol, o hormônio do estresse.
Aplicações
Segundo os pesquisadores, a meditação pode ser utilizada para combater doenças mentais. Trata-se de um processo simples, com potencial para melhorar ou prevenir transtornos do cérebro.. “As descobertas deste estudo são notícias boas para todos nós. Se tão pouco quanto 11 horas de treinamento da mente melhora nosso cérebro, essa atividade, acessível a qualquer pessoa, a qualquer momento, nos ajuda a desfrutar de mais clareza mental e estabilidade emocional em nossas vidas”, comentou a neurocientista Elena Antonova, do Instituto de Psiquiatria do King’s College de Londres.
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